quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Ministério da Saúde libera retirada de mama, útero e ovários para mudança de sexo no país

Mulheres que querem mudar de sexo conquistam o direito de retirar orgão femininos

A mudança biológica de homem para mulher, liberada em 2008 pelo Ministério da Saúde e hoje feita pelo Sistema Único de Saúde (SUS), agora é, também, privilégio das mulheres que desejam concretizar a transformação para o sexo masculino. Recentemente, o Conselho Federal de Medicina (CFM) autorizou a cirurgia para retirada de útero, mama e ovários, que era considerada experimental para transexuais.

Por enquanto, a cirurgia ainda não é feita pelo SUS, porque o procedimento só será liberado gratuitamente quando for, de fato, completo, ou seja, quando a construção do pênis deixar de ter caráter experimental.

A autorização foi publicada no Diário Oficial em 2 de setembro. Com a conquista, o primeiro passo é procurar um dos quatro hospitais habilitados pelo Ministério da Saúde (MS), no país, para realizar a retirada dos órgãos femininos, e seguir pré-requisitos, como passar por acompanhamento psicológico ou psiquiátrico por, pelo menos, dois anos, ter mais de 21 anos e ter diagnóstico de transexualismo.

Depois, a realização da mudança biológica ficará mais perto de se tornar realidade.

É o que espera Ricardo*, 19 anos, que desde os 14 percebeu que algo diferente se passava. Aos poucos, foi abandonando a "casca" de menina que o revestia. Começou se desfazendo do cabelo, até então comprido, para assumir para o mundo o que pra ele já era natural. Até então, ainda usava o nome de menina. O jovem já deu o primeiro passo e começou o tratamento psiquiátrico no Hospital de Clínicas, em Porto Alegre.

Somente Ricardo e outro catarinense, que mora no Oeste do Estado, estão na fila de espera para fazer a retirada dos órgãos femininos em Porto Alegre, segundo o ginecologista e responsável pela cirurgia de transexualismo no Hospital de Clínicas, Walter José Koff.

É importante ressaltar que não há registro de sucesso na construção de um pênis no mundo. Todos os procedimentos que foram realizados, em caráter de estudo, resultaram em um pênis necrosado. A cirurgia de retirada dos órgãos femininos custa, fora do Brasil, em torno de R$ 50 mil.

Cirurgia é o fim do processo

Procurar um especialista antes de tomar qualquer atitude é sinônimo de prudência, segundo a psicóloga e especialista em terapia sexual, Carla Regina Cardoso Bó, que atende pacientes em um consultório na Capital. Ela enfatiza que no tratamento é feito um trabalho de auto-imagem para que o transexual possa realmente definir se a cirurgia é realmente o caminho correto, já que é irreversível.

A especialista explica que o fato da pessoa ter características do gênero oposto não quer dizer que seja necessário a transformação cirúrgica.

— A cirurgia não pode ser o início de uma transformação. Ela é o que faltava. É o ponto final — explica a psicóloga.

Carla Regina também esclarece que primeiro é preciso fazer uma reflexão do motivo para querer fazer a cirurgia, trabalhar fatores emocionais, psicológicos e sociais:

— Ser homem ou mulher é algo que vem de dentro para fora, é importante sentir-se homem ou mulher. No tratamento é trabalhado o que é ser homem e o que é ser mulher. Como a pessoa se sente, como se vê, como reage com o mundo, com as pessoas, com a família e, principalmente, como reage consigo mesmo. O mais importante é que o novo corpo não vai trazer mais prazer, mais felicidade. Ele não vai fazer a pessoa se sentir mais homem ou mais mulher. O que faz a pessoa se sentir homem ou mulher é como a pessoa se vê, como encara a vida, como é vivida a vida —afirma Carla Bó.

* Nome fictício

Quadro de cirurgias nos hospitais habilitados entre 2008, desde que a mudança de sexo foi liberada pelo Ministério da Saúde (MS), e junho de 2010, cerca de 57 cirurgias de homem para mulher foram feitas pelo SUS no país, sendo 10 no primeiro ano, 31 em 2009 e 16 até junho deste ano. De acordo com o MS, o valor gasto até agora com as cirurgias (sem contar, por exemplo, as consultas com especialistas e o fornecimento de hormônio feminino) foi de R$ 74,1 mil, com valor médio por pessoa de R$ 1,3 mil.

Todos os hospitais habilitados para realizar as cirurgias de transexualismo são universitários: Hospital de Clínicas de Porto Alegre — Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) — Rio de Janeiro/RJ, Fundação Faculdade de Medicina HCFMUSP Inst. de Psiquiatria — Fundação Faculdade de Medicina MECPAS — São Paulo/SP e Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, em Goiânia.

— Hospital de Clínicas de Porto Alegre: fez 50 cirurgias, de homem para mulher, desde 2008. Pelo menos 30 pacientes aguardam na fila de espera para a cirurgia de mulher para homem, sendo que 16 já fizeram parcialmente a retirada de órgãos femininos.

— Hospital Universitário Pedro Ernesto do Rio de Janeiro: fez cerca de 30 cirurgias, de homem para mulher, tanto pelo SUS quanto por caráter experimental desde 2003. Pelo menos 40 pacientes estão em fase de acompanhamento psicológico. Outros 25 já estão liberado para a cirurgia. Ao todo, 13 pessoas estão na lista de espera da cirurgia de mulher para homem no Hupe.

— Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás: fez 35 cirurgias, de homem para mulher, pelo SUS desde 2008. Em caráter experimental, pelo menos sete pessoas fizeram a cirurgia parcial de mulher para homem. Outras quatro, retiraram todos os órgãos femininos: útero, mama e ovários.

— Fundação Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo: a médica responsável pelas informações das cirurgias de transexualidade está de férias. A assessoria de imprensa do hospital não tem os dados disponíveis.

clicrbs.com.br/diariocatarinense - Vanessa Campos 

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