domingo, 5 de setembro de 2010

Denúncia liga bispos da Universal e 'sanguessugas'

A Procuradoria da República em São Paulo apontou em denúncia à Justiça que ex-deputados federais e um vereador de Ribeirão Preto ligados à Igreja Universal do Reino de Deus cometeram fraudes em parceria com integrantes da "máfia dos sanguessugas" e desviaram cerca de R$ 2 milhões dos cofres do Ministério da Saúde.

Segundo a acusação formal, os envolvidos usaram uma entidade também ligada à Universal, a ABC (Associação Beneficente Cristã), sediada em São Paulo, para cometer as fraudes.

A denúncia tem como base uma auditoria realizada pelo Ministério da Saúde e pela CGU (Controladoria Geral da União) que apontou irregularidades em quatro convênios assinados entre 2002 e 2005 para compra de sete ambulâncias e equipamentos médicos e odontológicos.

O modo de atuação dos acusados é o mesmo descrito em outros processos sobre a "máfia dos sanguessugas".

De acordo com a Procuradoria, os ex-congressistas Vandeval Lima dos Santos e João Batista Ramos da Silva, que à época eram chamados de bispos, Marcos Roberto Abramo, que usava o título de pastor, e Wagner Amaral Salustiano aprovaram emendas para liberar recursos para os convênios entre o Ministério da Saúde e a ABC.

A acusação aponta que os diretores da ABC informaram ao ministério que a entidade possuía equipes médicas e leitos para atendimentos pelo Sistema Único de Saúde, mas os dados eram falsos.

Após a receber os repasses, cabia à ABC realizar licitações para a compra dos veículos segundo as exigências previstas nos convênios.

Porém, os dirigentes da ABC Saulo Rodrigues da Silva, bispo da Universal e vereador em Ribeirão Preto, e Randal Ferreira de Brito fraudaram as licitações e contrataram empresas do esquema da "máfia dos sanguessugas, de acordo com a denúncia.

As empresas vencedoras das licitações eram controladas por Darci José Vedoin, pela esposa dele, Clélia Vedoin, pelo filho do casal, Luiz Antônio, e por Ronildo Pereira Medeiros, que já são acusados em ações em outros Estados por comandar a "máfia dos sanguessugas".

Silva disse que na gestão dele na ABC não houve irregularidades e o advogado dos Vedoin afirmou que eles respondem pelos crimes em Mato Grosso.

A auditoria do ministério indica que as ambulâncias compradas foram encontradas sem os equipamentos previstos nos convênios e estavam em mau estado_ algumas nem bateria tinham.

Os ex-deputados ligados ao esquema receberam uma comissão de 10% sobre os valores desviados, conforme confissões dos Vedoin e interceptações telefônicas feitas em outras ações, de acordo com a Procuradoria. O órgão pede que eles sejam condenados pelos crimes de corrupção passiva e estelionato.

Os Vedoin e Medeiros foram acusados por corrupção, fraude à licitação e estelionato contra a União, e os ex-dirigentes da ABC cometeram fraude à licitação e estelionato, segundo a acusação.

Se a denúncia for aceita pela 7ª Vara Criminal Federal de São Paulo, os acusados passarão a ser réus em ação penal.

Vereador nega irregularidades, e igreja não se manifesta sobre o caso

O pastor da Igreja Universal e vereador em Ribeirão Preto Saulo Rodrigues da Silva nega irregularidades na compra de ambulâncias durante sua gestão na ABC (Associação Beneficente Cristã).

Procurada pela Folha desde quinta-feira, a Igreja Universal não se manifestou sobre a denúncia da Procuradoria da República.

O advogado da família Vedoin e de Ronildo Medeiros, Valber Melo, afirmou que eles já respondem a uma ação que tramita em Mato Grosso pelos crimes, e nesse processo fizeram uma delação premiada.

Segundo o pastor Saulo, a ABC atuava em um prédio emprestado pela Universal, mas era independente em relação à Igreja. A ABC encerrou suas atividades em 2006, mas seu fechamento formal ainda não ocorreu. Após esse encerramento as ambulâncias, que estão paradas, serão doadas a outras entidades, segundo o vereador.

Ele afirmou que os veículos eram usados oito vezes por mês, aos finais de semana, para atendimentos realizados por voluntários.

Os outros acusados pela Procuradoria não foram localizados pela reportagem.

folha.com.br

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