domingo, 29 de agosto de 2010

Consumo de crack avança em cidades do interior de Santa Catarina

Nas fazendas do Creta, funcionários dizem que número de internos do interior é maior do que os da Capital

Pela curtição, curiosidade, modismo ou até para trabalhar, com uma falsa sensação de ganhar força, jovens catarinenses do interior estão estragando suas vidas no consumo do crack. Em comunidades terapêuticas da Grande Florianópolis, não faltam histórias de moradores de pequenas cidades que levavam um dia a dia normal e sadio e o destruíram por causa do vício. Uma realidade que acende o sinal de alerta para as autoridades intensificarem os meios de prevenção e atendimento.

O Diário Catarinense esteve em fazendas do Centro de Recuperação de Toxicômanos e Alcoólicos (Creta), em Paulo Lopes, na Grande Florianópolis, e ouviu dependentes em tratamento e especialistas. A conclusão é que, de uns anos para cá, o crack deixou de ser droga marcante dos grandes centros urbanos e em que os seus consumidores eram pessoas marginalizadas. Hoje, a droga também deixa reféns em cidades menores e do interior. Os alvos são adolescentes, trabalhadores e até mães.

— Notamos que, a partir de 2002, o crack passou a ser levado também para as áreas distantes das metrópoles e zonas rurais. Há uma geração mais nova de cortadores de eucalipto e trabalhadores de plantações de cebola que usam para melhorar o desempenho na atividade agrícola. Mas acabam perdidos — assinala Sigwalt Filho, consultor e coordenador do Recanto Silvestre, comunidade terapêutica em Biguaçu.

Nas fazendas do Creta, funcionários afirmam que o número de internos do interior chega a ser maior do que os da Capital ou de outras grandes cidades. É fácil cruzar com um ou outro morador de alguma cidadezinha catarinense e que nunca andou antes pela Grande Florianópolis.

Mas, quando o assunto é o crack, falam com naturalidade e conhecimento dos seus efeitos aos usuários. A maioria experimenta antes o álcool, a maconha e a cocaína.

Os problemas com maior incidência pelo Estado ainda são com o alcoolismo, diz Maria Cecília Rodrigues Heckrath, coordenadora estadual da Saúde Mental da Secretaria de Estado da Saúde. Santa Catarina não tem números ou estatísticas sobre a presença do crack nas cidades.

Maria Cecília nota que nas de divisa ou fronteiras, como nas regiões Norte e Extremo-Oeste, a presença da droga é mais intensa.

— São regiões de rotas do tráfico e a facilidade de encontrar a droga é maior. A política do Estado é fortalecer os serviços existentes de atenção básica onde essas pessoas moram — diz a coordenadora.

Assistência deve chegar às pequenas cidades

Se nas grandes cidades o tratamento dos usuários já é difícil, nas cidades pequenas pode ser ainda mais complicado. Em apenas 170 das 293 cidades catarinenses há profissionais de saúde habilitados para tratar com dependentes de drogas.

O ideal, admite Maria Cecília, é que todas as cidades contassem com os chamados núcleos de apoio da saúde da família e os leitos psiquiátricos. Ela acredita que a assistência poderá melhorar com a adesão das cidades a programas como o de redução de danos, estratégia de informação aos usuários sobre os riscos do consumo.

Especialista em dependência química pela Universidade Federal de São Paulo e considerado referência no tratamento ao crack em Santa Catarina, o médico psiquiatra Marcos Zaleski vê a necessidade de aparelhar os municípios e capacitar os profissionais de saúde para frear o problema.

Para Zaleski, as políticas públicas são fundamentais, além da massificação da informação sobre as drogas. Ele cita a importância de campanhas como a Crack, Nem Pensar, do Grupo RBS. Defende ainda que o tratamento seja feito o mais cedo possível de quem usa maconha e cocaína. Segundo Zaleski, essa foi uma forma que países como a Suécia encontraram para evitar a existência de futuros usuários de crack.

A pedra chegava por mototáxis

Ela era uma menina exemplar. Estudava, ajudava em casa e ainda praticava esportes — gostava de jogar handebol e vôlei. Adulta, conquistou emprego e o seu próprio sustento. A moradora de Concórdia, no Oeste, teve uma reviravolta negativa em sua vida aos 25 anos.

Por influência de um namorado usuário de drogas, passou a consumir maconha e, depois, o crack. O que parecia impossível em sua vida aconteceu: perdeu o rumo, o emprego e a vida pessoal e familiar. Ela afirma que precisou se prostituir para comprar o crack.

Segundo revela, em Concórdia, a pedra chega aos consumidores por entrega em mototáxis. Quando era usuária, ficava longe de casa e dos familiares. A dor maior, atesta, foi quando perdeu a guarda dos dois filhos porque a Justiça entendeu que não tinha condições de criá-los.

— Só aprendi a dar valor depois que perdi tudo. Hoje, quase morro de saudade dos meus filhos. O crack é a pior coisa que existe e em todo o lugar tem — diz ela, em sua quarta internação.

Após tantas recaídas, a mulher de 30 anos agarra-se na espiritualidade para tentar vencer a abstinência que já dura quatro meses. Ela diz que a dificuldade na cidade após o tratamento é conseguir emprego e ter novas oportunidades.

Jornal de Santa Catarina - Diogo Vargas

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Um comentário:

Anônimo disse...

Porque alguém não inventa um produto bem venenoso e mistura no crack e depois distribui de graça para os drogados?? Garanto que logo logo acabaria com o problema.